HISTÓRIA DO XAXADO

 


ORIGEM 

Nos fins do século passado surgiu nos sertões nordestinos um fenômeno de rebeldia camponesa caracterizada pela formação de grupos armados sobre a liderança de um chefe que impunha seu próprio conceito de moral; honra; justiça e religiosidade. Foram chamados de cangaceiros. Eles viviam uma vida errante, de caráter comunitário, vestidos com roupas trabalhadas em bordados e chapéus de abas altas enfeitadas com moedas de ouro e prata. Sua tática de luta era a guerrilha e buscavam apenas dois objetivos: vingar crimes cometidos contraparentes ou amigos e conseguir mantimentos de boca e rifles para continuar lutando. O cangaço tem sua origem no período das capitanias na colonização brasileira, e se inicia na região litorânea. Duarte Coelho Oliveira Lima refere-se várias vezes a insegurança nos primeiros tempos da capitania, pela atuação de criminosos em correrias permanentes. No século XVII, foi ainda mais intensa as ações de salteadores e bandidos  no período de domínio neerlandeses no Nordeste; por causa do crescimento de desertores das tropas de ocupação. Os estrangeiros na sua maioria franceses e flamengos se mesclavam aos aventureiros luso-brasileiros da arraia-miúda. Eram chamados de Boschloopers (batedores de bosque da designação).

No fim do século XVIII, o banditismo não desapareceu da área litorânea, mas iniciou um processo de migração do litoral para o sertão, região onde ele viria a receber o batismo de cangaço ou cangaceirismo. A colonização florescia em todos os sentidos, permitindo uma repressão mais eficaz, como fruto de estruturação social, forçando os salteadores e bandidos a migrarem para outra região, com menos segurança. Essa forma de criminalidade passa a se desenvolver no sertão em um ritmo equivalente ao da sua decadência no litoral a partir da primeira metade do século XIX. Nos começos da vida social na caatinga ao longo do século XVII e XVIII, e boa parte do século XIX, foi necessário o uso de armas brancas e de fogo para impor o assentamento das fazendas, por causa das resistências dos indígenas e dos animais bravios existentes na fauna. Sendo assim, por uma compreensão cultural constituída neste período; o povo sertanejo resolvia situações de delitos, infrações e crimes através de procedimentos punitivos dentro de um entendimento coletivo de “justiça” pela comunidade, não esperando pela justiça pública, a qual muitas vezes não chegava naquela região. Sendo assim, o abandono do sertão pelos governos, a opressão criada pelo regime agropastoril primitivo e escravocrata, e a indignação pelas injustiças sociais, estimularam o crescimento do cangaço, sendo fonte de argumento e justificativa dos cangaceiros (primeiros divulgadores desta dança guerreira) para uma forma de vida criminal ostensiva e escancarada.

Outro fator importante foi que após o fim da Primeira Guerra Mundial o país passou por transformações profundas e, no estado, o período foi marcado por disputas entre grupos políticos e por movimentos populares que forçavam uma mudança na paisagem social, sobretudo entre os grupos de trabalhadores melhores organizados e com consciência de classe, a exemplo dos ferroviários, portuários e operários das indústrias de açúcar e de tecidos. Destaco também, acontecimentos políticos e sociais que marcaram a segunda metade da década de 1920, quando os líderes locais procuraram caminhos de modernização atendendo aos interesses das classes dominantes. Naquele período, intensificou-se o desenvolvimento industrial, melhoraram os padrões de conforto e de qualidade de vida para a classe citada anteriormente; ao mesmo tempo impediu-se que a massa trabalhadora, na grande maioria oriunda da escravidão atingisse a cidadania. Através da luta sociopolítica desenvolvido entre os Pereiras e Carvalhos pelo coronelismo prepotente e usurpador, surgiu o Rei do Cangaço que atuou nos sertões nordestinos entre 1910 a 1938. Foi denominado pelo historiador Eric Hobsbawm, como um bandido social; ou seja, uma espécie de Robin Hood nordestino . Virgulino Ferreira conhecido por “Lampião” foi identificado como o possível criador da dança denominada Xaxado.

ETIMOLOGIA

Existem duas correntes que defende a origem da etimologia. A mais conhecida foi divulgada pelo folclorista Luiz Câmara Cascudo; pois ele afirmou que Xaxado é uma onomatopeia das alpercatas chamadas de “rabicho” ou “xô boi” (nome de uma fábrica deste tipo de sandália), arrastadas no chão. Todavia, a outra corrente acredita que a palavra xaxado seja uma derivação que passou por um processo de alterações de palavras na boca do povo, criando corruptelas derivadas da palavra Xaxar que é uma corruptela de sachar; procedimento realizado por camponeses dentro do seu ofício em macrorregiões sertanejas nordestinas, que surgiu na metade do século XIX, que inspirou uma dança de guerrilha intitulada: Paraxaxá que com o passar dos anos foi denominada: Xaxado.

URBANIZADO

O folclorista Câmara Cascudo, explicou que Lampião criou uma dança e uma canção; mas é Gonzaga quem revela para os palcos e estúdios das emissoras de rádio, televisão, cinemas e revistas teatrais, a partir de 1950 (lançamento radiofônico do gênero), virando moda com as canções: “Vamos xaxear” (Luiz Gonzaga/Geraldo Nascimento) gravada em 1952 (Reg. N°800977a) ; e “Xaxado” (Luiz Gonzaga/Hervê Cordovil) gravada em 1952 (Reg. N°800977b). A ideia de Gonzaga depois do sucesso da criação do baião foi difundir outros gêneros e subgêneros musicais nordestinos para ter um conjunto de opções dentro de um estilo musical Forró Pé de Serra (Forró de Raiz) que representasse a cultura nordestina naquela época.

“Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, acaba de lançar uma nova dança – Inspirou-se nos bailes realizados nas caatingas pelos cangaceiros de Lampião – As garotas da TV Tupi ficaram empolgadas com o ritmo – Brevemente, Luiz Gonzaga lançará a sensacional novidade através da Tupi e da Tamoio – Todo mundo vai Xaxear” (Revista: O Cruzeiro de 14/06/1952 – Acervo do Memorial Luiz Gonzaga).

O xaxado de Gonzaga, narrou uma dimensão lúdica do mito Lampião, ao mesmo tempo em que omite a sua face violenta, e os problemas políticos. O gênero foi ganhando espaço no Rio de Janeiro, como em outros lugares do Brasil, fazendo sucesso nacional. Os “brotos cariocas” envolvidas pela nova onda só queriam dançar e se divertir.

“A festa do lançamento do xaxado foi marcada para o dia 19 de junho, no campo de São Cristóvão, um dos grandes logradouros públicos no Rio. Considerável massa popular ocorreu ao chamado das emissoras, que unidas, anunciavam a estreia simultânea, em seus microfones, do Rei do Baião, e de sua nova estilização, o xaxado” (Revista Manchete. 05/07/1952. p.12).

Em 1954, Gonzaga gravou a canção “Olha pisada”, de sua autoria e Zé Dantas. O cinema abriu espaço para esse novo gênero musical, então em 1958, Gonzaga participou do filme “Hoje o galo sou eu”, onde cantou e dançou a canção “Olha pisada”, e fez fama de bom xaxador (CARVALHO, 1958). Em 1957, surge o grupo Coruja e Seus Tangarás criado pelo paraibano Arnaldo Francisco das Neves (1927/1991), que ficou conhecido como Coruja . Gonzaga conhece grupo que foi inspirado por ele, e incentiva Coruja continuar com seu sonho. O grupo torna-se pioneiro no xaxado, passando a animar as festas na cidade do Recife, com seus trajes inspirados nos cangaceiros. Logo eles alcançam o Sul e o Sudeste brasileiro. Coruja participa de documentários exibidos na Argentina, Inglaterra, Portugal, França, Alemanha, Suíça e Estados Unidos divulgando os valores nordestinos. Logo surge outros grupos, como o grupo do sanfoneiro Valter de Andrade, chamado: Limoeiro e seus Jagunços, que não teve o mesmo reconhecimento.

TEXTO ATUALIZADO - 26/05/2022.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FONOGRÁFICAS

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FILMES E PROGRAMAS

HOJE O GALO SOU EU. Produção de Aloísio Teixeira de Carvalho. Rio de Janeiro: Realização da Flama Filmes, 1958. Longa-metragem 35mm, BP, 97min, 2.660m, 24q.
LAMPIÃO: O REI DO CANGAÇO. Produção de Benjamin Abrahão, Edição Al Ghiu. Rio de Janeiro: Realização da Cinemateca brasileira. 1955. Curta-metragem 10 min. Preto e Branco, mono.
O CANGACEIRO. Produção de Cid Leite da Silva, Direção Lima Barreto. São Paulo: Columbia Pictures, 1953. Longa-metragem (105 min.): Preto e Branco, mono.

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