XAXADO - DANÇA

A HISTÓRIA DA DANÇA DO XAXADO

A origem da dança que depois se tornou gênero musical sertanejo do nordeste brasileiro antecede a Lampião. No século XIX, encontraremos movimentos corporais empregados por camponeses dentro do seu ofício em macrorregiões sertanejas nordestinas, denominadas como: Sertão do Araripe, Sertão do Moxotó, Sertão do Pajéu, Sertão central e Sertão de Itaparica. Tais deslocações são responsáveis pelos passos aplicados na dança do Xaxado. A generalidade destes passos é diversa, entretanto citarei algumas: Antigamente quando era inverno nos sertões, eram comuns as famílias camponesas se juntarem para cuidar da boa terra mãe, que dava os frutos para o sustento de todos. Criava-se um mutirão para realizar desde a limpeza no mato, na broca, no plantio e por fim, na colheita. Então quando os agricultores manuseavam enxadas para limpar o mato na roça, seus movimentos com os pés eram semelhantes aos de quem está dançando o xaxado básico. Outro procedimento agrícola de deslocamentos semelhante era quando cobriam com terra os feijões, utilizando pequenas enxadas na base do caule do broto com poucos dias de nascido.

Não muito diferente dos anteriores citados, era a atividade de colhem o feijão e espalham a vagem (ou bajem) num lastro ou numa lona exposto ao sol, para secar. Quando seco, começa a fase de tirar os grãos da pelica. Esse trabalho era feito em grupo, num círculo ao redor de um monte de bajem, batendo com um pau e ao mesmo tempo chutando-as para virá-las. Contudo, outros camponeses neste momento, dentro de um sincronismo com as pancadas (realizadas por aqueles que com um pedaço de pau executavam) batiam palmas e movimentavam os pés, cantavam loas e modinhas ao redor dos batedores. Depois vinha o peneirado na peneira ou arupemba, sacudindo os grãos para o alto e amparando com muita habilidade o produto e deixando o vento levar as palhinhas. Assim, essas conduções corporais nos trabalhos na agricultura sertaneja nordestina foram base de inspiração para o surgimento dessa dança guerreira e entretenimento dos cangaceiros.

Segundo o sacerdote e historiador pernambucano, autor da coleção “Lampião, seu tempo e seu reinado”, o Pe. Frederico Bezerra Maciel. Quem transmitiu essa tradição dos agricultores para Virgulino (Lampião) foi sua tia avó Jacosa. Baseado nos depoimentos de familiares e ex-cangaceiros: Ela ficou muito emocionada com uma festa que Lampião fez em sua homenagem, e chegou até ensaiar, com seu sobrinho neto (devagarinho) uns passos trêmulos de dança que, no momento, inspirou Lampião e seus cangaceiros, a criarem uma dança especifica para o grupo. Como foi citado, o xaxado era uma dança de guerrilha e não de salão, como as demais dá época. Dançavam em fila indiana, o da frente, sempre o chefe do grupo, puxava os versos e o restante do bando respondia em coro, semelhante ao coco de praia. Existe aproximadamente nesta dança sete passos rudimentares; eles são relacionados a gestos de guerra, sendo =graciosos, porém firmes. As deslocações lineares do xaxado é da seguinte forma: Dentro de um compasso em 2/4, com o andamento ocorrendo aproximadamente em 100 ppm; se posiciona o pé direito em um movimento frontal no valor de uma colcheia, trazendo o mesmo arrastando a posição anterior, e na sequência puxasse o pé esquerdo para frente no valor de uma semicolcheia, na subsequência, o pé direito faz uma deslocação no tempo de duas semicolcheias com uma ligadura, num rápido e deslizado sapateado, logo após é executado pelo pé esquerdo uma semicolcheia, e é finalizado a frase com uma colcheia no pé direito.

TEXTO ATUALIZADO - 26/05/2022.

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REFERÊNCIAS

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LAMPIÃO: O REI DO CANGAÇO. Produção de Benjamin Abrahão, Edição Al Ghiu. Rio de Janeiro: Realização da Cinemateca brasileira. 1955. Curta-metragem 10 min. Preto e Branco, mono.

O CANGACEIRO. Produção de Cid Leite da Silva, Direção Lima Barreto. São Paulo: Columbia Pictures, 1953. Longa-metragem (105 min.): Preto e Branco, mono.


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