Esse gênero passou por um complexo processo de construção urbanizada e nos seus princípios elementares teve influencias de outros gêneros musicais por meio dos elementos constitutivos da música; destaco os principais influenciadores por meio dos elementos, são eles: através da melodia sobressai o Corridinho e o Lundu, no ritmo teremos duas correntes: o Baião e o Coco e na harmônia o Corridinho e Choro. Contudo, como gênero musical o Forró foi desenvolvendo uma estrutura “idiomática” entre as décadas de 1960 a 1970. Ele como gênero iniciou-se no metro binário 2/4, executado habitualmente entre os andamentos 90 e 100 ppm, entretanto a parti da década de 1980, alguns novos compositores inspirados em outros gêneros musicais criaram Forrós em quaternário. Também houve mudança no andamento que começou a ser realizado entre 96 e 106 ppm. Nos dias atuais em algumas macrorregiões do Nordeste o andamento do Forró pode atingir velocidades um pouco mais rápidas.
Sua estrutura formal musical é constituída no formato “destacato” dando um sentido martelado, porém é coerente entre a acentuação das sílabas e a sincope rítmica predominante no groove estabelecido pelo gênero citado que geralmente emprega dois versos por parte. Destaco que essa particularidade ocorre geralmente inclusa na parte “A” (da música ou canção) em uma sequência dentro de tétrades arpejos estabelecidos com versos longos (23 sílabas aproximadamente), contudo, em relação à parte “B” (da música ou canção) é executada uma melodia prolongada que implica muitas vezes em uma progressão de cadencias especificas evidenciada pela predominância do movimento descendente das melodias que logo retornar a generalidade executada na parte “A”; ou seja, o esquema formal do Forró como gênero é construído com a introdução, seguindo com versos longos destacatos normalmente predominante à primeira subdivisão da figura dominante do compasso) na segunda parte é realizado um refrão com versos geralmente não havendo sons prolongados) e finalizando com a introdução.
Sua construção melódica passeia principalmente dentro dos campos modais: mixolídio, dórico e lídio. A concepção harmônica foi confeccionada através da influência tanto do corridinho na sua versão regionalizada no nordeste brasileiro, denominada de miudinho; assim como, o gênero brasileiro chamado de choro. Luiz Gonzaga principal urbanizador do gênero teve grande influência por meio destes gêneros citados anteriormente, pois ele cresceu ouvindo seu pai Januário tocando miudinho na sua região natal e secundariamente (ainda adolescente) também passou a executar tal gênero e depois foi um dos pioneiros como sanfoneiro no choro, tocou em conjuntos regionais de choro; como o regional de Benedito Lacerda e o regional de Canhoto, e depois como acordeonista solo da gravadora RCA Victor, gravou 21 choros sendo de sua autoria 15 e as outras de vários compositores, destacando Ernesto Nazareth, do qual Gonzaga gravou três. Não posso deixar de citar os sanfoneiros quem contribuirá para a constituição do gênero, como: Pedro Sertanejo, Abdias, Dominguinhos, Sivuca, Camarão, Severo dentre outros, que preservaram as características modais e as técnicas adaptadas pelo mestre Gonzaga.
É perceptível que no final da década de 1950 até a metade da década de 1960 esse gênero sofreu influências de outros gêneros musicais. Devo destacar que o seu primeiro registro como gênero musical foi à canção – Forró no escuro (Reg. N°801938a) do compositor e letrista Luiz Gonzaga, gravada em 1958 pela gravadora RCA Victor, contudo é notório que ele ainda não tinha uma estrutura formal, exemplo: nesta canção é nítido a influência rítmica do baião batido, também é evidente o influxo do miudinho seja na introdução como na harmonia fechada trabalhando contrapontos simples. Já na gravação da canção – Forró em Limoeiro (1953) do compositor Edgar Ferreira interpretada por Jackson do Pandeiro é explícito um sotaque rítmico e melódico do coco de embola, também encontramos a influência rítmica do baião batido na zabumba, mas no cavaquinho as células rítmicas são de choro; o afoxé assim como o agogô dividem levadas de manbo. Entretanto, a sanfona ainda sem definição de groove. Para concluir tal entendimento destaco a música – Forró brejeiro (1958) do compositor e interprete Pedro Sertanejo. Encontramos nessa gravação a sanfona empregado técnicas do miudinho e o violão levada de choro; já o agogô realiza divisão de xaxado e o triângulo com uma definição dentro de quatro semicolcheia com acentos pré-definidos. Enfim, o Forró irá realizar ao longo deste tempo uma fricção através da ascendência de outros gêneros desenvolvendo uma estrutura "idiomática”.
TEXTO ATUALIZADO - 28/05/2022.
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REFERÊNCIAS
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FILMES E PROGRAMAS
LUIZ GONZAGA: a luz dos sertões. Direção de Rose Maria, Produção de Anselmo Alves. Recife: Realização ALEPE – Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, 1999. DVD (60 min.): Dolby Digital, HD, son, color.
PROGRAMA Ensaio. Produção de Fernando Faro. São Paulo: Realização CULTURA - Fundação Padre Anchieta - São Paulo, 1992. TV (60 min.): HD, son, color.
RAÍZES do fole. Direção e Roteiro: Rafael Coelho. Direção de Fotografia: Henrique Paiva. Produção: Rosa Melo, Amaro Filho, Diego Hernan Lopez, Mariella Macedo, Anselmo Alves, Capucho. Recife: página 21, 2008. 1 DVD-vídeo (71 min). Vídeo documentário.
IMAGENS
Figura 1 – Imagem de Luiz Gonzaga e o Trio Nordestino. Foto: NID.
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