HISTÓRIA DO BAIÃO

ORIGEM DO BAIÃO

IMAGEM DO CONJUNTO 4 ASES E UM CORIGA COM LUIZ GONZAGA

No final da década de 1940 foi criado um gênero musical exclusivo do Nordeste brasileiro, chamado de Baião. Seus criadores foram: o sanfoneiro, cantor, letrista e compositor pernambucano: Luiz Gonzaga junto com o músico, letrista e compositor cearense:  Humberto Teixeira. Seu lançamento fonográfico foi gravado em 1946 pela gravadora Odeon – N°12724b, por um dos maiores grupos de sucesso na chamada era de ouro do rádio brasileiro (anos de 1940 a 1950) o conjunto 4 Ases Um Coringa, com a participação do sanfoneiro Luiz Gonzaga na canção de sua autoria e seu parceiro Humberto Teixeira, chamada de “Baião”; ou seja, o nome da canção é o mesmo do gênero musical em questão. O conjunto 4 Ases Um Coringa conquistaram os primeiros lugares nas paradas de sucesso da época com a canção citada. Em 1947, o baião “Juazeiro” também de autoria da dupla, foi gravado inicialmente por Sólon Sales, depois por Os Cariocas . Contudo é a partir de 1949, com Luiz Gonzaga que o gênero se tornou um sucesso nacional . A popularidade do baião foi tão grande que desequilibrou o eixo da música brasileira no fim dos anos 40 até meados dos 50.

“… Gonzaga foi, pois, o artista que, por meio de suas canções, instituiu o Nordeste como um espaço da saudade. Embora não aquele Nordeste com saudade da escravidão, do engenho, das casas-grandes; mas o Nordeste da saudade do sertão, de sua terra, de seu lugar. Saudade de seus cheiros, seus ritmos, suas festas, suas alegrias, suas sensações corporais... Um Nordeste humilde, simples, resignado, fatalista, pedinte. E, ao mesmo tempo, um Nordeste de grande “personalidade cultural”. Um lugar que quer conquistar um lugar para sua cultura em nível nacional, que quer mostrar para o governo e para os do Sul que existe que tem valor, que é viável. O espaço da cultura brasileira contra as estrangeirices do Sul”.

Luiz Gonzaga colocou o Nordeste no mapa (inclusive das vendas) da MPB; o crítico Tarik de Souza comentou: Foi tomado de assalto o incipiente mercado brasileiro. Tanto que as prensa da RCA foram obrigadas a trabalhar quase que exclusivamente para os discos de Gonzaga. O gênero logo se tornou um sucesso nacional levando o jornal Diário Carioca a afirmar: “o baião vem fazendo estremecer todo o vasto império do samba e agora já não se poderá mais negar a influência decisiva desse gênero musical na predileção do povo”.

O baião também chegou às salas de cinemas em 1949 no filme do cineasta italiano Giuseppe de Santis, que teve a participação da atriz Silvana Mangano cantando “Baião de Ana” composição de V. Roman e F. Gioconda no filme – Arroz amargo. Contudo, é em 1950 que o baião chega a Hollywood por meio do filme Romance Carioca (Nancy Goes To Rio) com direção de Joe Pasternak, onde a cantora Carmen Miranda canta uma versão em inglês escrita por Ray Gilbert da canção Baião (Ca-Room' Pa Pa) dos compositores e letristas Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Em 1953, o baião também chega às telas de cinemas na Europa através do filme “O’ cangaceiro”, na voz de Vanja Orico e Demônios da Garoa cantando “Mulher Rendeira” sendo identificado como autor: Zé do Norte, com a sanfona de Zé Gonzaga. O filme do cineasta Lima Barreto recebe na França, a menção honrosa no Festival de Cannes (Palma de Ouro).

Ressalto que os baiões de Gonzaga, Humberto e Zé Dantas foram classificados na década de 1950 entre as mais populares músicas do país, atraindo uma infinidade de compositores e intérpretes da música popular. Sendo assim, em 1951, a música: Delicado (Reg. 16214-a) do compositor Valdir Azevedo é gravada na Continental pelo próprio autor e faz grande sucesso no Brasil, pois em seis meses vendeu duzentos mil discos (recorde brasileiro na época), também faz sucesso na Argentina, vendendo cento e trinta mil discos. Em meados de 1952, através da gravadora Decca Records Inc. nos Estados Unidos, a música: Delicado chega às paradas de sucesso. Paralelamente, a Decca francesa incluía na sua seção Disques Brésiliens esse baião de Valdir Azevedo e recebeu ao longo dos anos 50, orquestrações de grandes maestros americanos, como: Stan Kenton, o primeiro a gravar o baião Delicado com versão orquestral no disco Capitol (Reg. 5 226), depois Percy Faith.

Diante de tanta repercussão o cronista de discos do jornal carioca Última Hora, escreveu em sua coluna no dia 24 de maio de 1952: “… depois do Tico-tico no fubá do compositor Zequinha de Abreu e Aquarela do Brasil de Ari Barroso, o Delicado de Valdir Azevedo será a nossa terceira música com âmbito internacional de indiscutível sucesso e popularidade”. Em 1952, a cantora Dalva de Oliveira grava junto com a orquestra do maestro inglês Roberto, a canção Kalu (Reg. X-3 361-a) do compositor Humberto Teixeira, sendo gravado na voz da cantora, na Odeon no Rio de Janeiro e a orquestra no estúdio em Londres. A cantora Keiko Ikuta regravou em japonês no Rio de Janeiro na RCA – Victor, a canção Paraíba (J-55 006-a) dos compositores Gonzaga e Humberto, com a versão feita por Kikuo Furuno. A norte-americana Joan Baez também grava a canção “Mulher Rendeira”.

É relevante citar que o baião foi considerado na época como o ritmo da moda, o mais consumido e aplaudido, sendo executadas tanto pelas bandinhas de pífanos, semelhantes à cabaçal do maestro Sebastião Clarindo; assim como, as orquestras, como por exemplo: a do maestro e professor Guerra Peixe. Eles receberam várias gravações instrumentais inclusive sendo re-harmonizados. Dentro dessa abordagem, podemos citar o arranjo "experimental" de Hermeto Pascoal no álbum A música livre de Hermeto Pascoal (Sinter/Phonogram, 1973), a versão jazzística feita pela pianista Eliane Elias em duo com Herbie Hancock, gravada no álbum Eliane Elias - solos and duets with Herbie Hancock (Blue Note, 1995), e o Concerto sinfônico para Asa Branca de Sivuca, uma versão orquestral gravada pelo músico com a Orquestra Sinfônica do Recife, sob regência do maestro Osman Gioia no álbum Sivuca Sinfônico (Biscoito fino, 2004).

Por fim, durante muito tempo principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, esse gênero musical permaneceu nesta posição até meados da década de 1950, entretanto, com a ascensão da televisão e consequente declínio do rádio o baião começou a desaparecer das paradas de sucesso o mesmo aconteceu com as músicas apoiadas em ritmos sertanejos do Sul e do centro-Sul. Entretanto, o baião despertou novamente atenções tanto das rádios quanto das televisões por causa de um boato criado pelo apresentador de programas de rádio e televisão Carlos Imperial . Ele em um programa de televisão denunciou a semelhança das músicas dos Beatles com os xotes de Luiz Gonzaga e como prova colocou no palco um conjunto de jovens tocando a canção: O xote das meninas (Gonzaga/Dantas) com uma base de guitarra em cima... Mas isso não convence a ninguém. Todo mundo achava que aquilo era mais uma gozação do Carlos Imperial. Então, ele num gesto dissimulado, aborrecido, pois um disco qualquer diante da câmera para um rápido close e falou:

“Vejam aí... vocês não acreditam que o Iê, Iê, Iê tem ligação com as músicas do Gonzaga. Acham que é só conversa mole. Pois bem, escutem só esse disco... Aliás, eu não vou nem tocar. Eu estou com raiva!... Eu vivo falando e ninguém dá ouvidos!.. Só mostro mesmo o disco. Vejam: os Beatles acabaram de gravar a Toada Asa Branca do Luiz Gonzaga! ”

Na ocasião o Rei do Baião encontrava-se excursionando no Amazonas e começou a ser procurado para tudo quanto era programa de rádio e televisão. O segundo acontecimento foi por causa do tropicalismo, que foi um movimento brasileiro naquela época que vivia as transformações do mundo dentro do próprio país. O Brasil tinha no tropicalismo o correspondente no processo de pós-modernização que se instalava no mundo inteiro. Eles negavam valores tradicionais e indicava possibilidades de mudança de rumo no campo da canção, do cinema, do teatro, da poesia, da literatura, da dimensão filosofal considerando a filosofia dos modernos autores. O cantor e compositor Gilberto Gil foi o primeiro a intitular sua obra, como: Música popular feita no Brasil, dando liberdade a sua expressividade musical para transitar livre por todos os gêneros e comportamento musical. Colocando sua alma musical em plenitude com a música de terreiro, tribal e pop.

Ele cresceu no sertão da Bahia sob o som da sanfona e da viola; a primeira impressão de encantamento absoluto, com a canção popular veio através da música de seu primeiro ídolo, Luiz Gonzaga. O primeiro instrumento de Gil aos dez anos foi à sanfona. Então suas músicas demonstram grande influência do seu habitat nordestino, e ele junto a Caetano Veloso, Gal Costa fez uma releitura das canções do mestre, que despertou novas gerações para o trabalho de Luiz Gonzaga.  Exemplo: “Domingo no Parque” música de Gilberto Gil que participou do festival de Música da Record em 1967. Então, no início da década de 1970, o produtor Rildo Hora entusiasmados com a marcante participação do Rei do Baião em todos os festivais e movimentos jovens; decidiu inflamar os jovens como um LP forjado na voz de Gonzaga, intitulado – o canto jovem de Luiz Gonzaga. Disco editado no dia 21 de julho de 1971, com os arranjos do maestro Guerra-Peixe, coadjuvado por H. Silvestre e Luís Eça. E a seleção do Repertório foi feita por Rildo hora.

Em 1979, Elba Ramalho se destaca com o baião “Não sonho mais” do compositor e letrista Chico Buarque, que se tornou trilha sonora do filme “A República dos Assassinos”. Na década de 1980, Luiz Gonzaga recebe um convite para ir a Paris através da cantora Nazaré Pereira, acreana da cidade de Xapuri, radicada em Paris e considerada na França a “embaixatriz” da música nordestina, desde que fizera grande sucesso com “O Cheiro da Carolina”, música de Zé Dantas e Amorim Roxo. Então o público francês finalmente conheceria o criador do Baion Brésilin, na casa de espetáculos parisiense - Bobino, que ficou lotada por um público cosmopolita, vindo dos quatro cantos da Europa, com a presença de artistas e jornalistas franceses. Gonzaga retorna à França, para se apresentar no dia 6 de julho de 1986 no Halle de La Villete, ao lado de Fafá de Belém, Alceu Valença, Moraes Moreira, Armandinho Macedo, entre outros artistas que faziam parte da comitiva o “Couleurs Brésil”.

É importante destacar que antes de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira o Baião não era um gênero musical e sim uma divisão rítmica. Essa frase sincopada  chegou ao Brasil na época do tráfico negreiro, ela tem origem do oeste-africano  trazida por um grupo etnolinguístico, denominado de Bantus. Ela é disseminada dentro de uma multiplicidade de manifestações culturais nas macrorregiões no Nordeste (Sertão, Agreste, Zona da Mata, e Núcleos: Centro, Norte, Oeste, Sul).

“ (....) aquela coisa toda cortada, sujeita e presa, aquele ritmo quadrado e coisa e tal, porque logo depois nós descobrimos que podíamos deixar o ritmo solto e extravasar o nosso lirismo... Depois que resolvemos que o ritmo que nós teríamos de dar como saída pra implantação da música nordestina aqui no sul era o baião, nós tratamos de urbanizar. Tratamos de dar características, ah, digamos assim, nacionais a esse ritmo tão eminentemente telúrico e a esse tipo de música tão ligada às coisas do norte”.

Essa percepção rítmica é ouvida, nos cultos africanos na Cidade do Recife em Pernambuco desde o século XVIII, com a denominação Moçambique. Também a encontramos ainda no mesmo século, em um dos primeiros gêneros musicais afro-brasileiro, intitulado Lundu. Essa preposição rítmica é notada igualmente no folguedo do bumba meu boi ou boi-bumbá  que é uma das mais ricas manifestações do folclore brasileiro, considerado uma espécie de ópera popular com personagens humanos e animais fantásticos. Igualmente localizamos essa frase musical, em uma arte marcial afro-brasileira, intitulada de Capoeira. Da mesma forma que há vários estilos de caratê, com técnicas bastante distintas entre si, na capoeira igualmente temos vários estilos. Nesta luta são utilizadas músicas chamadas de cantigas, que lembram os nomes e as proezas dos capoeiristas, mantendo-os vivos na memória coletiva da capoeira. Dentro destes estilos temos a “Capoeira de Angola” e o “São Bento Pequeno”, onde achamos a frase linear. Também encontramos essa divisão no repicar dos sinos  das Igrejas Católicas na Cidade do Recife – período da capitania pernambucana.

O vocábulo, nesse sentido, caiu em desuso na voz popular, limitando-se apenas no âmbito dos funcionários das igrejas. Ainda notamos a preposição rítmica da qual estamos abordando, em um gênero musical existente no sertão nordestino, chamado de Toada, que é uma canção lenta e melancólica; com característica de lamento ou protesto; a percepção rítmica dominante deste gênero musical é a frase da qual estamos abordando. O baião, ainda como uma percepção rítmica, é ouvido nas bandas de pife, como uma levada dentro de um pequeno tema instrumental, sobre o qual os pifeiros executam variações dentro dos campos modais, principalmente: mixolídio e dórico. É relevante citar outra demonstração folclórica, denominada: O Canto de Viola ou Repente, que é realizado por uma dupla de cantores populares que se acompanham com violas, chamados de repentistas ou violeiros. A dupla utiliza os mais variados temas para criar versos, produzindo uma poesia musicalizada com o assunto proposto no momento, denominado de improviso, ao som de um pequeno trecho musical  executado pelas violas; intitulado no nordeste do país de “baião”; que é extremamente simples quase monótono, entretanto permite ao violeiro testar a afinação do instrumento e esperar a inspiração. Assim, enquanto um toca a viola, o outro improvisa, ao final do verso, quem estava cantando passa a tocar e o outro começa a improvisar e quem estava cantando passa a tocar.

“Era uma coisa que se falava: dá um baião ai .... E alguém cantava: Já apanhei minha viola / já afinei o meu bordão ... nham nham ... nham nham .... É aquilo que o cantador faz, quando começa a pontear a viola, esperando a inspiração; ou seja. Só o tempero”. 

Segundo o folclorista potiguar Luís Câmara Cascudo (1898/1986), essa manifestação cultural tem registro desde 1903, nos sertões do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte; registrado pelo folclorista paraibano José Rodrigues de Carvalho (1867/1935), no livro chamado “Cancioneiro do Norte”. Teremos o primeiro registro por meio de áudio em 1938, através da “Missão de Pesquisas Folclóricas”, que foi idealizada e organizada pelo escritor e musicólogo paulista Mário de Andrade (1893/1945), no período em que ele esteve à frente do Departamento de Cultura de São Paulo . Foi neste seio folclórico que Gonzaga e Humberto tiveram o principal contato com o baião, como frase rítmica rudimentar ; assim como também as linhas melódicas e as sequências de progressões específicas de acordes, bem como determinados campos modais (como: lídio, dórico entre outros) empregados pelos violeiros nordestinos como fundo musical para expressar suas poesias. Segundo o advogado, deputado federal e compositor cearense Humberto Teixeira (1915/1979), foi o groove repetido e invariável executado no bordão da viola, assim como o pequeno interlúdio  instrumental fazendo discretas e primitivas variações acompanhando a melodia vocal, e as estrofes  de sete versos (setilha) que foram inspiradoras para a construção do gênero urbanizado:

"(....) um caboclo nordestino que, vindo lá do pé de serra do Araripe, trouxe-nos o baião, velho ritmo sertanejo, tão velho quanto a terra que lhe deu origem, mas que andou esquecido durante anos, servindo apenas para fazer a marcação da viola, cadenciando as modinhas e as cantigas do nosso matuto. E se hoje ele brilha nos grandes centros civilizados, fazendo o encantamento de todos aqueles que sabem apreciar a arte pura e simples de um povo, deve-se, principalmente, a Luiz Gonzaga".

Por fim, entende-se que o baião também era compreendido na época como adjetivo de andamento; então quando queriam se referir à velocidade de uma música, usavam as expressões: “alegre”, “variada”, “apressada” ou baião. Entretanto, quando a música era ainda mais acelerada que o baião, pedia-se um toque abaianado ou baiano; ou seja, as músicas com andamentos rápidos. Exemplo encontrado: nas Bandas-de-pife e nos Cabocolinhos recifenses (em momentos dançados e intercalados com suas representações dramáticas-coreografadas). Portanto vimos assim, que são diversas as manifestações musicais que se encontra a frase rítmica, denominada de baião. Assim como interlúdio, já que se intercala às falas do Bumba-meu-boi às manobras dos Cabocolinhos e se entremeia à poesia dos cantadores. E foi dentro deste contexto que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira criaram uma pesquisa no sincretismo nordestino através dos elementos constitutivos para a categorização musical do gênero urbanizado que se pretendia criar. Gonzaga adaptou signos  rítmicos do Canto de Viola, que tem a característica de compasso binário em especifico dois por quatro, seu andamento quando na sua modalidade mais acelerada foi destinado à dança de casal nas festas. Todavia, quando desacelerado foi associado a temas mais melancólicos, que Gonzaga intitulou de Baião-toada. 

O primeiro registro da palavra Baião na discografia brasileira foi feito na década de 1928 por Jararaca quando gravou o “samba nortista”, de Luperce Miranda pela Odeon (10.360b), cantando em solo: “Baiana eu vou mergulhando, no compasso do baião, requebra mais baianinha, machuca meu coração …”.

Sobre a sua origem assim como o seu significado, existem várias hipóteses, das quais encontraremos diversas definições de diferentes autores e estudiosos do assunto. Existe uma estimativa que defende que a palavra baião seria derivada do termo baiano, como acreditavam Mário de Andrade e Correia de Azevedo. Assim como, Luiz da Câmara Cascudo, que em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, afirma que o baião e o baiano têm o mesmo significado: “... era dança popular muito preferida no nordeste do Brasil”. No entanto não observamos a princípio nenhuma ligação entre essas palavras. Por ter várias interpretações da origem dessa palavra, acredito ser necessário buscarmos definir o significado do termo baião a partir da linguística e da etimologia.

Então através de um estudo mais aprofundado na nossa gramática buscaremos o sentido de fato destas palavras. Seguindo esse raciocínio usaremos a Morfologia, para analisar a forma e a estrutura das palavras e secundariamente classificá-las em categorias gramaticais. Sendo assim, a palavra: “baiano”; quanto à função: é substantivo, pois é uma palavra que dá nome a um ser, quanto à forma: gênero masculino singular e quanto à estrutura: palavra derivada . Para continuar nossa busca ainda na estrutura das palavras, chegaremos ao processo de decompor as palavras em partes ou unidades significativas e cada uma dessas partes ou unidades será chamada de Morfema. Cada morfema é responsável por uma informação dentro da palavra. Sendo assim, dividiremos a palavra – baiano em duas partes: bai + ano. 

1. bai – morfema classificado como Radical , que informa por meio da etimologia que ele vem do termo: Bahia.

2. ano – morfema classificado como Sufixo, que é colocado depois do radical de uma palavra, com a finalidade de acrescentar a ela um sentido. Esse morfema é uma derivação sufixal que indica origem, naturalidade ou nacionalidade.

Então, através desta análise mediante a morfologia, a palavra – baiano significa aquele que nasceu no estado da Bahia . Enfatizo, que alguns estudiosos acreditam em uma conjectura, semelhante a defendida para a origem do lundu, também conhecido como lundu-baiano, ou seja, em algum momento, se teria designado o termo para indicar sua procedência geográfica: Bahia. Não obstante, outros estudiosos supõem que o processo poderia ter se dado inversamente, quer dizer, de “baião” teria surgido à expressão  – “baiano”. Tal como o “Maneiro pau” – outra forma de dança popular – que nada tem a ver com Minas, embora seja este o modo pelo qual o nordestino chama o “Mineiro pau”. Contudo, Clóvis Campêlo assegurava que a palavra – baiano, seria a transformação de baiar e não de Bahia. Então, ainda na estrutura das palavras vamos abordar sobre o significado etimológico destas duas palavras: Baião e Baiar. Sendo assim, identificaremos as formas e as estruturas das palavras, através da Morfologia, para depois classificá-las em categorias gramaticais. Agora, vamos analisar cada palavra de acordo com sua função, forma e estrutura. Começaremos dividindo a palavra baiar em duas partes: bai + ar. 

1. Bai – o significado etimológico desse morfema é: Ballare.

2. ar – no processo de formação da palavra, em específico na derivação regressiva encontramos o verbo que indica uma ação: bailar.

Por meio desta pesquisa compreendemos que Baiar é uma corruptela da palavra primitiva ballare, que significa bailar, dançar; é de origem do latim (língua falada antigamente na região onde hoje se encontram Itália e Portugal). Por meio desta análise, também vamos dividi-la em duas partes a palavra baião: bai + ão. 

1. bai – o significado etimológico desse morfema é uma derivação da palavra: Ballare, que denota o vocábulo – Baile.

2. ão – esse morfema é um sufixo aumentativo junto com uma abreviação vocabular que significa: grande.

Através desta análise, podemos supor que baião significa um evento dançante de proporção maior do que o normal; ou seja, é um grande baile. Logo, chega-se à hipótese que essas duas palavras têm a mesma origem primitiva, com derivações diferentes. Entretanto em determinados casos a palavra primitiva sofre uma redução, dando origem a novas palavras e através do processo de redução forma-se expressões idiomáticas. Por meio deste conceito foi criada outra hipótese. Segundo Gustavo Barroso baseado na explicação do processo de deformação da palavra na boca do povo, o termo baião seria uma derivação do vocábulo “Balho ” que era uma expressão usada para anunciar um baile ou danças lusitanas em Portugal . Gustavo justifica que se considerarmos que tantas vezes palavras de origem portuguesas tenham tomado forma no linguajar nordestino, Balho tornou-se dentro da linguagem local a expressão Baião. Hipótese que também defende Batista Siqueira , que identifica a palavra citada como adjetivo para o significado de baile popular. Por fim, historicamente ainda não foi encontrado nenhum documento que comprove definitivamente alguma destas teses como a verídica.

TEXTO ATUALIZADO - 05/02/2022.

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Link para a história da dança do Baião. 

REFERÊNCIAS
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______; TEIXEIRA, Humberto. Paraíba. São Paulo: RCA, 1951. L. A (Reg. N° J-55 006-a), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
______; TEIXEIRA, Humberto. Macapá. São Paulo: RCA, 1950. L. A (Reg. N° 800717), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
______; VALENTE, Assis.  Sou pão Duro. São Paulo: RCA, 1946. L. A (Reg. N°800440a), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
MARCOLINO, José. Cantiga do vem-vem. In: GONZAGA, LUIZ. A Triste Partida. São Paulo: RCA Camden, 1964. L. B (P2PAP-1318) faixa 1, 1 disco (45 min.): 33 1/3 rpm, microssulcos, mono. 107.0079. 12 pol. 
MIRANDA, Luperce. Samba nortista. São Paulo: Odeon, 1928. L. B (Reg. N°10.360b), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
MORAIS, Guido de. No Ceará não tem disso não. São Paulo: RCA, 1950. L. B (Reg. N°800695b), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
MORAIS, Guido de; NÁSSER, David. Baião da Penha. São Paulo: RCA, 1951. L. B (Reg. N°800827b), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
NÁSSER, David; GONZAGA, Luiz. Madame Baião. São Paulo: RCA, 1951. L. A (Reg. N°800819ª), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
NORTE, Zé. Mulher Rendeira. Interprete – Vanja Orico. São Paulo: RCA, 1953. L. A (Reg. N°80-1100ª), 1 disco (10 min.): 78 rpm, microssulcos, mono. 
PANDEIRO, Zeca do; NUNES, Edgar. Festa no Céu. São Paulo: RCA, 1958. L. B (Reg. N°801941b), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono. 
ROMAN, V; GIOCONDA, F. Baião de Ana. São Paulo: M. B. M. 1950. L. A (Reg. N°9-154-A standard), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
SERTANEJO, Pedro. Balaio do norte. São Paulo: Cantagalo, 1958. L. B (LPC – 602 – HI-FI), faixa 5; 1 disco (45 min.): 33 1/3 rpm, microssulcos, mono. 12 pol. 
TEIXEIRA, Humberto. Kalu. São Paulo: ODEON, 1952. (Reg. X-3 361-a), 1 disco (16 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.

FILMES E PROGRAMAS

ARROZ AMARGO. Produção de Dino De Laurentis. Direção de Giuseppe de Santis. 
Itália: Lux Film Distributing Corporation, 1949. Longa-metragem 108min: Preto e Branco, mono. 
É COM ESSE QUE EU VOU. Produção de José Carlos Burle. Rio de Janeiro: Realização da Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S. A. 1948. Longa-metragem 35mm, BP, 97min, 2.660m, 24q.
HOJE O GALO SOU EU. Produção de Aloísio Teixeira de Carvalho. Rio de Janeiro: Realização da Flama Filmes, 1958. Longa-metragem 35mm, BP, 97min, 2.660m, 24q.
LUIZ GONZAGA: a luz dos sertões. Direção de Rose Maria, Produção de Anselmo Alves. Recife: Realização ALEPE – Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, 1999. DVD (60 min.): Dolby Digital, HD, son, color.
O CANGACEIRO. Produção de Cid Leite da Silva, Direção Lima Barreto. São Paulo: Columbia Pictures, 1953. Longa-metragem (105 min.): Preto e Branco, mono.
RICO RI À TOA. Produção de Roberto Faria. Rio de Janeiro: Realização Brasil Vita Filmes S. A., 1957. Longa-metragem, Sonoro, Fricção, 35mm, BP, 110min, 2.740m, Dupont.  
ROMANCE CARIOCA (Nancy Goes To Rio). Produção de Joe Pasternak, Direção de Joe Pasternak. Los Angeles, CA, Estados Unidos: Realização Metro-Goldwyn-Mayer, 1950. Longa-metragem 100min. 

PERIÓDICOS

GONZAGA, L. Luiz Gonzaga: O Rei do Baião. [17 de outubro de 1988]. Rio de Janeiro: Jornal O Globo. Entrevista concedida a Marcos Cirano. 
GONZAGA, L. O eterno rei do baião.  Abril.  Revista VEJA, p. 82. São Paulo: 1972.
GONZAGA, L. Entrevista na Revista Manchete de 05/07/1952. 
GONZAGA, L. Entrevista na Revista: O Cruzeiro de 14/06/1952. 
LIRA, Marisa. O artigo Baião 1 da série Brasil sonoro (Jornal Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 1° de março de 1958).
PEIXE, Guerra. O artigo: Variações sobre o baião. In: Revista da Música Popular. N° 5, em fevereiro de 1955.
TEIXEIRA, H. Título: O Doutor do Baião. [Ed 0041] Revista - O Cruzeiro, Rio de Janeiro, N°57, p. 61 (29-07-1950). Entrevista concedida José Amándio.

IMAGENS

Figura 1 – Imagem de Luiz Gonzaga e o grupo Quatro Ases e Um Coringa em um programa de rádio na década de 1940. Imagem do acervo do Site LuizLuaGonzaga.com.br. 

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