XAXADO - MÚSICA


O Xaxado é binário, assim como a maioria dos gêneros pertencentes ao estilo Pé de Serra. Geralmente é construído em 2/4, com o andamento entre 100 e 115 ppm. Neste gênero as variações rítmicas ocorrem com menos frequência do que nos outros gêneros e subgêneros ligados à dança. As influências modais  encontradas na maioria dos xaxados folclóricos, são: Lídio e Mixolídio. Há canções que alternam segmentos com contornos melódicos sinuosos (arpejos e saltos) e trechos mais retos, nos quais, em vez da passionalidade baseada em notas longas, predomina a segmentação, portanto o aspecto diretivo, típico aos padrões rítmicos recorrentes da música ligeira. Ele tem duas subdivisões rítmicas que se destacam, são elas: colcheias e semicolcheias. Em relação à articulação das colcheias, observa-se que há uma leve acentuação nos contratempos. Observa-se uma construção de um padrão formado por quatro colcheias com ligadura de extensão na última colcheia. A combinação de tal padrão com a acentuação dos contratempos é representativa na articulação do xaxado. Porém, essa acentuação é bem sutil, tal articulação sonora não apresentava um formato caricato. A acentuação dos contratempos pode estar presente mesmo quando a subdivisão rítmica é realizada em semicolcheias (SANTOS, 2013. p, 109).

O xaxado urbanizado  tem duas preposições rítmicas definidas, uma delas foi criada por Gonzaga, e ele mostrou claramente como executá-la na gravação da canção “Vamos xaxear”. Se observarmos nesta canção, propositalmente Gonzaga começa com dois compassos só o triângulo tocado junto a um tamborete, e depois junto com o triângulo entra a zabumba com mais dois compassos, e numa sequência ininterrupta rítmica ainda vem para se juntar à zabumba e o triângulo, o agogô e o reco. Essa levada especifica é conhecida como “pisada”, que na realidade é as mesmas figuras rítmicas que se faz nos pés para dançar o xaxado básico. A outra levada surgiu fonograficamente em 1977, através da canção “História de Lampião” dos compositores Severino Ramos e José Gomes Filho (Jackson do Pandeiro) realizada por Cicero (zabumbeiro) irmão de Jackson.

O Xaxado no formato de canção é realizado na estrutura simétrica  e no estilo declamatória; ou seja, as palavras cantadas podem ter uma entoação aproximada da fala, como ocorre com a embolada. As estrofes são confeccionadas por redondilhas maiores, que geralmente utilizam a mesma armação formal, ocorrendo um processo de “afunilamento” categórico, como também alternâncias entre a terminação poética feminina e masculina entre palavras paroxítonas ou oxítonas. A forma de cantar o xaxado consiste dentro de um modelo de inflexões presentes em sua forma de execução e emulação. O xaxado folclórico  tinha dois tipos de contextualização nas canções, uma com aspecto comemorativo e outra com características agressivas e satíricas, denominada: parraxaxá. A primeira tinha letras com o objetivo de enaltecer as aventuras e façanhas dos cangaceiros. Entretanto, a segunda continha letras com a finalidade de insulto aos inimigos, lamentando das mortes de companheiros. Geralmente, a parraxaxá era executada nos intervalos das descargas de seus fuzis contra a polícia. A primeira canção comemorativa que se tornou famosa no sertão e mais tarde popularizada, foi “Mulher rendeira”. Segundo o cangaceiro Volta Seca, ela é inspirada através de uma canção que Lampião escutou quando criança, sua tia avó cantar. Segue abaixo a versão original: 

Olé mulher rendeira
Olé mulher rendar
A pequena vai no bolso 
E a maior vai no boná
Se chorar por mim não fica
Só se não puder levar

O fuzi de Lampião
Tem cinco laço de fita
No lugar que ele habita
Não falta mulher bonita

Quando ela escutou pela primeira vez, aproximadamente em 22 de fevereiro de 1922; falou: “Não é que ele aproveitou as palavras que eu costumava dizer a ele quando menino, quando começava a embirrar com suas teimas. Ele nunca deixou de fazer arte! Espie essa agora...”.

Essa canção que foi atribuída como autoria de Lampião, apareceu no filme “O cangaceiro” (1953), gravada no gênero musical – baião; sendo identificado como autor: o Alfredo Ricardo do Nascimento conhecido como Zé do Norte, que foi indicado pela escritora e jornalista, a cearense Rachel de Queiroz, para a equipe da produção cinematográfica deste filme dirigido pelo paulista Lima Barreto, como consultor de prosódia sertaneja e terminou também se destacando como letrista e compositor.

TEXTO ATUALIZADO - 26/05/2022.
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REFERÊNCIAS

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FONOGRÁFICAS

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CORREIA, Antônio; VALE, João do; JUNIOR, Leopoldo Silveira. Quero ver xaxar. In: MARINÊS E SUA GENTE. Quero ver xaxar. Sinter, 1975. L. B (SLP-1105) faixa 4; 1 disco (45 min.): 33 1/3 rpm, microssulcos, mono. 10 pol. 
DANTAS, Zé; GONZAGA, Luiz. Olha pisada. São Paulo: RCA, 1954. L. B (Reg. N°801277a), 1 disco (10 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.
NASCIMENTO, Geraldo; GONZAGA, Luiz. Vamos xaxear. São Paulo: RCA, 1952. L. A (Reg. N°800977ª), 1 disco (10 min.): 78 rpm, microssulcos, mono.

FILMES E PROGRAMAS

HOJE O GALO SOU EU. Produção de Aloísio Teixeira de Carvalho. Rio de Janeiro: Realização da Flama Filmes, 1958. Longa-metragem 35mm, BP, 97min, 2.660m, 24q.
LAMPIÃO: O REI DO CANGAÇO. Produção de Benjamin Abrahão, Edição Al Ghiu. Rio de Janeiro: Realização da Cinemateca brasileira. 1955. Curta-metragem 10 min. Preto e Branco, mono.
O CANGACEIRO. Produção de Cid Leite da Silva, Direção Lima Barreto. São Paulo: Columbia Pictures, 1953. Longa-metragem (105 min.): Preto e Branco, mono.

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